segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Aquecimento Global? Por cá, não!

Não sei o que se passa com o povo português.
Não consigo entender.
Aquele fatalismo que nos caracteriza há vários séculos está a ganhar dimensões assustadoras e a devorar todos os outros sentimentos, bons e maus, que também nos caracterizavam.
Não parece haver espaço nos corações e almas dos portugueses para sentimentos como a alegria, o amor, a tristeza ou a dor.
Os portugueses estão cada vez mais a deixar de viver para simplesmente sobreviverem, limitam-se a existir, como elementos neutros condenados à insignificância.
E de quem é a culpa?
Não vamos acusar o Sócrates e a TVI (embora tenham a sua fracção), acusemo-nos antes a nós próprios por inoperância e incapacidade de sentir, de querer, de desejo.
Se calhar os pólos estão a descongelar porque o calor humano já não vem de onde vinha...

8 comentários:

Anónimo disse...

A culpa é da futilidade que esta gentalha tem em querer só por querer, ter só por ter. Qual a graça? O tuguês começa a achar graça, alguns desesperam. Onde estamos nós? Encobertos em nevoeiro? ... Morremos?


Os contra o aquecimento global: Emigrar é a solução

Anónimo disse...

O texto é muito bonito, mas infelizmente não se aplica apenas ao povo português. A subversão de valores, ou incapacidade de os ter, de sentir, está propagada um pouco por toda a cultura ocidental (Europa e EUA). Não sou eu quem o diz mas é dos livros que uma sociedade só consegue dedicar-se a actividades mais culturais, as pessoas só estão alegres e disponíveis quando têm uma série de condições básicas asseguradas, como a parte económica/ financeira e política. Não me parece que as pessoas em Portugal se dediquem a causas muito filosóficas quando sufocam diariamente com contas e injurias no emprego. O mundo Ocidental tornou-se materialista e assim continuará. O povo português tem o azar de não conseguir fazer face aos seus companheirinhos europeus e americano.

E não, não sou cegamente fiel ao povo português, nem nutro sentimentos patrióticos, mas acho que afirmar que as pessoas estão incapazes de sentir alegria, tristeza, amor e dor é algo pretensioso.

Pedro Henrique disse...

Caro anónimo,
em primeiro lugar muito obrigado pelo comentário e bem-vindo a este espaço em construção. Admito que talvez seja um pouco rude a minha visão no ponto em que a legitimo e confindo a Portugal. Porém, faço-o em contraste inconsciente às minhas experiências em outros países, nomeadamente na Alemanha. Concordo plenamente com a dificuldade de destinar tempo a outros prazeres devido à incómoda situação que vivemos, mas tal não poderá ser uma desculpa absoluta para baixarmos os braços. Não diria que a minha afirmação sobre a incapacidade de sentir tenha sido pretensiosa, mas, quiçá, exagerada. Fi-lo ciente disso mesmo, mas o quadro em que a vejo a vida ser pintada à minha volta parece ter poucas cores e muitos tons de cinzento. Mas não quis fazer deste texto uma apologia ao desespero, mas sim um grito contra o mesmo. Por mais difícil que aparente ser, devemos sempre sonhar.

Anónimo disse...

Hoje em dia sonha-se menos com a loucura e mais com empréstimos bancários. Tudo tem o seu lugar, tá claro, mas sonhar por estas terras parecem ser tarefa outrora conhecida, hoje quase inexistente.
Não acho a afirmação exagerada, também vejo as paredes cinzas, com textura rugosa, perdidas.
Sufoca-se diariamente graças à estupidez, que tal perder o folgo no sentir?

Anónimo disse...

Physis, desculpa mas acho que não percebes-te o que quis dizer.
E também acho que para nós (vou supor que todos aqui têm cobertura dos papas que asseguram despesas ou asseguraram recentemente) é muito fácil afirmar que os problemas bancários não são tudo. Não são de facto. Vemos culturas em que o material nao é valorizado, em que as pessoas apesar de despojadas de quaisquer bens ou com vidas bem complicadas mantêm-se uma alegria e força imensa.
Concordo que as pessoas estejam a ficar mais fúteis,mais frias, mais individualistas. Mas também acredito que sejam consequências naturais do mundo ridículo (agora sim o exagero da expressão) em que vivemos. É a nova era. É trágico, sim. As pessoas sentem mas sentem diferente, não são platónicas, não acreditam no mundo das Ideias. Mas individualmente, também não têm culpa disso, nem estão desprovidas de emoção/reacção/sentimento (enfim...) em relação ao que as rodeia. Apenas o fazem de forma mais elementar, se calhar, incompreensível aqueles que conseguem transpor as barreiras do pensar quotidiano.

Pedro Henrique disse...

Eu percebo a Physis e percebo-te a ti anónimo, tal como também creio perceber-me a mim, e todos temos a nossa pitada de razão, julgo eu. E adorei a tua frase final, pois talvez seja mesmo isso que me acontece, eu sinto alguma incompreensão face à passividade emocional aparente (real ou irreal)dos seres da nossa sociedade (perdida ou em busca de novo trilho) porque a minha febre de viver não baixa, continua a aumentar e quer sempre mais...mais do que parece ser possível encontrar pelos caminhos que percorro.

Anónimo disse...

Entendi o ponto de vista de cada um. Não comentei directamente para ti caro anónimo. Quanto à cobertura bancária, vamos imaginar que cada um não a tem, que vive no mundo do gerir cada cêntimo em latas de sardinha, há que buscar Amálias e viver fados (nem que seja com cheiro a peixe).


A "febre de viver não baixa", "querer sempre mais", como entendo do que falas, mais do que mastigar o "carpe diem" (como quase toda a gente faz, esquecendo-se que é bem provável haver amanhã) há que conjugar emoções ultrapassando-as do "momento x". Este "devorar o momento" lembra-me a mulher portuguesa, que se tornou banal. Outrora criticava o homem, julgando-o com muitos defeitos e duas virtudes (pénis e carteira) e que agora jaz em banhos materiais, aproveitando os paspalhos (desculpem mas muitos se iludem com odores). O "carpe diem" de aproveitar o momento, a sensação, materializou-se em aproveitar uma boa soma. Onde estão os sentimentos da mulher portuguesa? Não era "sã"? Volte a portuguesa porque não somos apenas caracterizadas por um belo buço.

Francisco M. disse...

Opiniões à parte e respeito casa uma delas, durante a discusão deste tema foram ditos pontos muito importantes:
Concordo com muitas das vossas palavras: o posso português tornou-se materialista (há muito tempo...), o povo português está a "perder emoções", a deixar de sentir...e só está bem quando tem tudo (material claro...)

Acho que o nosso querido povo passa demasiado tempo a olhar para o seu umbigo e enquanto faz isso perde as coisas boas da vida, como apanhar um pouco de Sol, ler um bom livro (deve de haver aí 3 pessoas cultas em Portugal, como refere uma Socióloga portuguesa), dar uma corrida ou uma caminha ou andar de bicicleta, enfim...

O tuga vai despejar o lixo de carro, passa os fins de semana em Fóruns e, como disse o anónimo e muito bem, só etá feliz quando tem a conta bancária recheada!!!
Não pode ser...
Esta mentalidade...não nos leva a nenhum sitio e ao continuar assim, vão continuar a haver os problemas que sempre existiram e nós vamos continuar a ser o povo "triste" (em todos os aspectos, com maior número de depressões e com mais falta de cultura, sempre os primeiros em tudo o que é mau) que sempre fomos...

É um tema que merece ser debatido e não squecido!
Gostei das vossas opiniões, de todos os 3, mostra que são diferentes dos indiferentes e estão sensibilizados para a situação.
Continuem assim (e acho que é isso que importa e não se perceberam a opinião do outro ou saber quem tem mais razão...)